segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

O vinho, o acidente e o Santo*

O condutor de um camião-cisterna carregado de vinho, que ontem capotou na EN 125, estava longe de imaginar que se iria tornar santo padroeiro por um dia. O acidente deu-se junto a Alcantarilha, cerca das 12h30, devido a uma "mancha de óleo". Manuel Pinguinhas saiu ileso, mas o vinho que transportava não. Jorrou durante horas, não deixando ninguém indiferente.
Um grupo de trabalhadores da construção civil não perdeu tempo e antecipou o almoço. Juntaram-se-lhes algumas dezenas de populares. Copos, púcaros e garrafões, tudo serviu para impedir aquele desperdício.
O resto da tarde foi de festa, com todos a cantar, rir e dançar em plena estrada. "Que grande pomada!", dizia um popular, já de olhar turvo. Outro confessava ter pouca vontade de voltar ao trabalho e rematava: "Não vale a pena chorar por causa de vinho derramado".
Nem mesmo os bombeiros locais conseguiram resistir. "Mal consegui controlar os meus homens", admitiu o comandante, pois estes iam desmobilizando à medida que provavam a bebida. E apesar de os trabalhos de remoção do camião terem sido concluídos às 17h45, a população de Alcantarilha não esmoreceu. Com o vinho recolhido, prolongou a festa até às tantas.
Os turistas, esses, elogiavam a qualidade da bebida e perguntavam o nome do santo padroeiro daquela festa popular tão alegre e hospitaleira. Era "S. Pinguinhas", o azarado motorista.
Quem poderá não ter gostado dos festejos foram os automobilistas presos nas filas de trânsito de 18 quilómetros que se formaram durante a tarde em ambos os sentidos.
L.G.
[*Exercício de escrita jornalística (realizado algures em Dezembro). A base eram "dados recolhidos pelo repórter no local" e o objectivo "informar com clareza e imaginação". Uma história fictícia, infelizmente...]

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