quinta-feira, 23 de março de 2006

Conferência
Médicos devem revelar conflitos de interesse


Exige-se «uma relação mais transparente entre farmacêuticas, médicos e doentes». Para Lobo Antunes, «um dos segredos pior guardados» é o conflito de interesses.

A relação dos médicos com a indústria farmacêutica e com os pacientes «deve ser transparente». Pelo menos na opinião do Professor catedrático João Lobo Antunes, expressa durante o debate «Governança na Investigação Biomédica». A iniciativa realiza-se na Fundação Luso-Americana até dia 23 de Março, e resulta de uma parceria com a Comissão Fullbright e a Fundação GlaxoSmithKline.

«Os dois segredos mais mal guardados da classe» são os erros médicos e os conflitos de interesses. Ambos são cada vez mais seguidos pela imprensa. A opinião pública é muito sensível às polémicas com os «presentes» oferecidos aos médicos. «Por isso, o assunto tem de ser encarado de frente», considera o médico, membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

Lobo Antunes considera que os médicos têm três tipos de interesse próprio: o financeiro, o académico e um último mais difícil de caracterizar, relacionado com a recusa de alguns casos arriscados para manter um nível de conforto social. Salienta que «é importante perceber que são situações pontuais e não um comportamento sistemático».

Os conflitos financeiros, ligados às entidades privadas de saúde e à indústria, podem ser os mais graves. E não há sistemas perfeitos. Se um médico é pago «por serviço», terá tendência para aumentar, sem necessidade, o número de intervenções. Numa gestão empresarial, a tendência será a contrária, no sentido de reduzir custos, afectando a qualidade do serviço prestado.

Também é comum a auto-recomendação, quando um médico envia o doente para uma entidade onde tem interesses. «Os doentes percebem imediatamente. Já passei por isso». «Explico-lhes sempre que podem fazer os exames na clínica privada onde trabalho, ou no sistema público». Mas quando é necessário repetir um exame mal feito, «acaba por sair mais caro aos contribuintes».

Quanto à pressão da indústria, Lobo Antunes não a nega, mas diz que nunca a sofreu. «Temos de perceber que a medicina é um negócio com um forte fundamento ético». E por isso, «devem ser os médicos a discutir estes problemas e a desenvolver códigos de ética fortes». É um processo que tem de ser feito de forma «franca e aberta».

Luís Galrão
23 de Março, 17:54 [Editado pelo Filipe]

1 comentário:

Anónimo disse...

Se precisares de mais info sobre a Comissão Fullbright e a fundação luso-americana, conheço alguém q trabalha lá

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